Mais de 40% das empresas ouvidas por estudo apontam habilidades com IAs como as mais importantes, superando técnicas específicas de finanças
As buscas por cortes de custos devido à instabilidade geopolítica global e à necessidade da adoção de políticas de compliance estão fazendo os chefes de departamentos fiscais ou de finanças mudar o foco de suas contratações: o conhecimento sobre análise de dados e domínio de ferramentas de inteligência artificial (IA) ganharão destaque nos processos seletivos para vagas na área.
É isso que mostra o estudo global “Tax Transformation Trends 2025”, da consultoria Deloitte, que ouviu representantes de mil empresas com receitas anuais de no mínimo U$ 750 milhões. As duas habilidades foram apontadas por mais de 40% dos participantes da pesquisa como as mais importantes nos próximos dois anos. Técnicas específicas de finanças, por outro lado, foram indicadas por 37% dos respondentes.
De acordo com o sócio líder de consultoria tributária da Deloitte, Luiz Fernando Rezende, essa é uma das mudanças que buscam atender de forma eficiente as demandas de um mundo com um volume cada vez maior de informações automatizadas e possibilitar a centralização e a padronização de atividades fiscais.
Para ele, o mundo passa por um momento de convergência. De um lado, a reforma tributária, a mudança das regras para o preço de transferências e a implementação do Pilar 2 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre tributação internacional mostram uma tentativa de alinhamento do Brasil a práticas internacionais. De outro, tecnologias implementadas no Brasil há anos começam a sair do papel ao redor do globo. Um exemplo é a adoção de arquivos de informação e notas fiscais eletrônicas por países europeus e asiáticos.
“No mundo todo, os fiscos estão entendendo que quanto mais acesso à informação, menor o risco de sonegação. Então os problemas e os desafios também começam a convergir”, observou.
Uso fiscal de IAs ainda é cauteloso
Apesar de a maioria dos entrevistados reconhecer a necessidade do uso de ferramentas de IA, o emprego dessas tecnologias, na maioria dos casos, fica restrito à automatização da entrada e do processamento de dados de rotina.
Essa cautela é entendida como algo natural por Rezende: “Tanto lá fora quanto aqui, a aplicação da IA está começando pelo mesmo ponto, que é o ponto menos crítico, que é o menos arriscado: é o ponto de captura de informação”.
Rezende acredita que, no médio prazo, cálculos de impostos e predições de cenários entrem no escopo das inteligências artificiais usadas na área fiscal. E, em um futuro ainda mais distante, sejam usadas para interações nas cadeias de valor, como colaborações com fornecedores e clientes.
No entanto, Rezende ressalta que a redução no volume de trabalho manual não deve tirar o protagonismo dos humanos. “Algo que dificilmente vai ser delegado para a inteligência artificial é a parte de gestão de risco. Acho que vão ter informações disponíveis pela IA, mas as decisões sobre que tipo de risco tomar ainda vão ser, durante muito tempo, um aspecto pessoal”.
Fonte: JOTA